Wednesday, November 02, 2005

Música numa despedida branca

A Hungria recebeu de branco Fehér no seu regresso às origens. Quando a urna do malogrado jogador chegou a Budapeste a neve cobria o chão e o ambiente era de paz absoluta. No caminho até Gyor uma águia de asas abertas em pedra, situada num monte em plena auto-estrada, como que guiava o eterno camisola 29 do Benfica nesta última viagem ao país natal, onde o esperavam quatro mil pessoas para lhe dizerem adeus.
A capela era pequena de mais para acolher todos os que queriam prestar a última homenagem e alguns jogadores do Benfica tiveram de ouvir de fora os discursos e a música «Em sítios próximos» do grupo húngaro Bikini, uma das preferidas de Miklos Fehér. Depois de lida a mensagem da família, a mãe fez o prometido e cantou ao filho a música que Miki tanto adorava, mas, como referiu no discurso, desta vez a canção não ajudou a superar a ansiedade, a dor e a angustia. Anikó Miklósné Fehér agarrou ao peito uma foto do filho e sem tirar os olhos da urna cantou a balada do Miki. Este foi, para quem teve a possibilidade de ver, um dos momentos mais marcantes da cerimónia onde o silêncio só foi interrompido quando as lágrimas teimavam em cair pelos rostos.
Embalar o sono profundo

Lá fora, todos olhavam para a urna de Miklos Fehér e para a comitiva que seguiu de Lisboa com um respeito profundo. O corpo foi transportado até ao local da sepultura por alguns jogadores do Benfica ao longo de um autêntico manto branco que a natureza se encarregou de colocar. Os familiares e amigos despediram-se pela última vez de Miki, enquanto a terra o recebia, coberto com um pano branco com as cores da Hungria e um cachecol do Benfica. A música faz-se ouvir novamente e a mãe, Anikó, abraçou com as forças que ainda lhe restavam a fotografia do filho, como que o embalando para este último sono.

Com Miki entregue à terra de origem, a comitiva regressou a Lisboa com o sentimento de dever cumprido, onde chegou às 23 horas. No céu, o camisola 29 acompanhou em pensamento os colegas, equipa técnica e todos os que o levaram de volta à Hungria.

As recordações dos momentos vividos com Miklos Fehér não sairam da cabeça e todos fizeram questão de marcar com dignidade esta partida, que para os presentes foi um «Mindõrõkké» (Até breve).

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