Sunday, October 30, 2005

Camacho: «Chorei de raiva e de impotência»

O ex-treinador do Benfica não tem dúvidas. A 25 de Janeiro, em Guimarães, viveu o maior drama da sua carreira desportiva. É o que se pode reter da entrevista de Camacho ao diário espanhol «Marca», publicada na terça-feira 27 de 2004, e cujo tema foi a morte de Miklos Fehér. «Quando vês uma tragédia como esta pela televisão, por exemplo, como foi a de Foé, pensas no quão terrível ela é. Agora quando a sentes na carne, é incrível. É duríssimo. O mais duro que me aconteceu no futebol», sublinhou o técnico ao jornal do seu país.Quando o drama aconteceu em pleno relvado, Camacho não conteve as lágrimas e chorou como uma criança. O que se passou na cabeça dele? «Pensei no que lhe disse minutos antes [o jogador entrou a 30 minutos do final do jogo com o V. Guimarães], que não podíamos fazer nada por ele, chorei de raiva e de impotência. Estava muito magoado. Vês que ele está ali no chão e não podes fazer nada, que o ajude...» As palavras do técnico dizem tudo aquilo que sentiu num dos momentos mais difíceis da sua carreira: «Estas coisas marcam. Quando estas tragédias que só vês na televisão te tocam, apercebes-te de muitas coisas».
Apesar de várias correntes darem a entender que a ambulância, por exemplo, não foi célere na hora de entrar no relvado para prestar auxílio a Fehér, o treinador do Benfica deixou bem claro, em entrevista à Marca, que não houve qualquer tipo de negligência médica. «Se era preciso fazer algo mais, isso foi feito. Não lhe faltou nada. Acho que todos actuaram bem e o mais rápido possível. Se não o puderam salvar, é porque não havia remédio. Sei que tem havido polémica, mas creio que não faz qualquer sentido». Mas Camacho deixou uma crítica ao quarto árbitro que não o deixou entrar no terreno de jogo quando os médicos davam os primeiros socorros ao jogador húngaro. «Não entendo a sua atitude. Era uma coisa tão grave».
A par de Camacho, também o seu adjunto Pepe se revoltou com a atitude dos arbitros assistentes e do quarto arbitro. «O quarto árbitro e o juiz de linha tiveram um comportamento estúpido ao não nos deixar entrar em campo. Foi a pior coisa que me aconteceu no futebol, a mais terrível. Espero que não se repita nunca mais», desejou. Mas Camacho foi ainda mais além. Voltou atrás no tempo e expressou tudo o que sentiu naquela hora de agonia: «Quando Fehér estava deitado no chão, pensei que cada segundo que passava era um mundo. Se passasse mais tempo, ele ficaria ali. Chorava de raiva e de impotência. É uma sensação inimaginável».
Mas a imagem de dor não se resume só a estas palavras. Há outras bem mais dolorosas: «Aconteceram-me muitas coisas no futebol, umas boas e outras más, mas esta é a mais dura e que faz muitíssima diferença».

2 comments:

Anonymous said...

obrigado raquel por esses testemunhos www.raptuga.blogspot.com

Anonymous said...

De vez em quando lembro-me do Feher, e foi assim que o teu blog me apareceu à frente... Parabéns pelo teu trabalho! É importante que nunca se esqueça o jogador e o jovem que se perdeu... e que tantas alegrias nos deu!