Sunday, October 30, 2005

Mourinho: «Todo o futebol está de luto»

Foi um aniversário invulgarmente amargo para José Mourinho. No dia em que completou 41 anos, o técnico do F.C. Porto deixou o centro de estágio, ao princípio da tarde, visivelmente abatido pela notícia do falecimento de Miklos Fehér. As suas primeiras palavras foram dirigidas à família de Miklos Fehér: «É um momento muito difícil, e expresso as minhas condolências à família, que é o mais importante nestas circunstâncias. À noiva, uma jovem que era quase, quase casada com Fehér, e aos pais, que tinham, no mínimo, um filho querido».Com dificuldade assumida para articular ideias, Mourinho estendeu o luto a todo o universo do futebol: «A partir daqui é-me difícil estender as condolências de forma particular, porque acho que toda a gente o perdeu, no fundo.Qualquer profissional de futebol neste país também se sente um bocadinho de luto. E qualquer adepto, não só os benfiquistas, bracarenses, salgueiristas e portistas, que o tiveram como jogador. Acho que toda a gente esteve com ele naquele momento de luta em Guimarães, e todos lamentam muito e se sentem de luto com a perda de alguém», acrescentou.Sobre o jogador, com quem se cruzou na sua primeira época no F.C. Porto, em 2001/02, quando Fehér estava na equipa B dos dragões, Mourinho não tem dúvidas: «Perdemos um elemento de grande qualidade futebolística e o sentimento não deve ser muito diferente daquele que se tem perante um pescador que morre no mar, ou de um mineiro que morre na mina: foi um jogador que morreu em campo, a fazer aquilo de que mais gostava. A prova de que esse sentimento é generalizado é que no nosso grupo temos jogadores que foram seus colegas, com um passado em comum e que eram seus amigos, e outros que praticamente não o conheciam, como era o meu caso, pois o nosso relacionamento pessoal foi quase nulo, com igual tristeza. No fundo, em momentos como este, não há muitas palavras, sente-se que uma vitória ou uma derrota não é tão importante como isso, e que há coisas muito mais importantes, como a vida dele.»A concluir, Mourinho comentou os efeitos da notícia no grupo, assumindo que o estado de espírito dos jogadores ficou bastante afectado: «Hoje foi um dia diferente. Tínhamos os frigoríficos cheios de espumante porque o Nuno fez anos ontem, e eu faço hoje, e é óbvio que agora continuam cheios, porque nenhuma garrafa foi aberta. A alegria no trabalho nem de longe podia ser a mesma, estamos todos chocados e impotentes. Qualquer um de nós trocaria vitórias pela sua vida. Mas já conversámos no balneário, e chegámos à conclusão óbvia de que todos nós já perdemos pessoas importantes na nossa vida, familiares e amigos, e a vida continuou. Temos de continuar a treinar e a trabalhar e encontrar de novo os nossos objectivos», concluiu.

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